sábado, 18 de agosto de 2012

PALAVRAS LÍQUIDAS “Vou vertendo estas palavras líquidas” Assim são as palavras sem adorno Simples, desajeitadas ou insípidas Despertam, ou mesmo dão-nos sono Mas basta uma palavra fora de eixo Desafiando os astros no espaço Para quebrar a forma ou o contexto De líquidas a sólidas, vai um passo. Palavras que se deixam dedilhar Num teclado negro, ou doutra cor Palavras, construídas para cantar Amor de amar, amor, chagas de dor. Ideias fraseadas a compasso A entornar dos dedos os afectos Traduzem um adeus ou um abraço Soletram, doces nomes predilectos Como, se de puro mel as extraísse Alinho-as nos meus versos dum poema E conto a velha história que me disse Que sempre uma palavra vale a pena in "Com Mote Certo"

sábado, 23 de julho de 2011

REZO - POEMA DE MARIA MELO N LIVRO COM MOTE CERTO

REZO

“Rezo sem saber se deus existe”*
Rezo partilhando as minhas penas
Rezo sobretudo se estou triste
Em preces disfarçadas de poemas.
Rezo, mesmo sem ter a certeza
Se daí pode advir algum alento
Rezo, agradecendo à natureza
A pura inspiração do que invento.
Rezo no silêncio do meu quarto
Rezo, sem palavras e sem gestos
Rezo, nos sentidos que reparto
Por queixas e protestos.
Rezo a qualquer hora porque sim
Rezo, soltas frases, feitas prece
Rezo sem princípio meio ou fim
Rezo, porque apenas me apetece!

domingo, 17 de maio de 2009

ESTÓRIAS QUE A TERRA ME CONTA

Com a terra, de quando em vez
me apetece conversar
até há insensatez
nas estórias que vou contar

Mas lê com muita atenção
de certeza gostarás
algumas terão lição
doutras apenas dirás:


- Estórias para entreter
por vezes bem divertidas
pra dar a conhecer
da terra algumas vidas!


1

AS LEIS DO FORMIGUEIRO

Conheces tu as formigas?
aqueles insectos rasteiros
sempre em suas fadigas
a correr prós formigueiros?

Pequeninas e pretinhas
nem sempre são elas calmas
vão esfregando as patinhas
parece que batem palmas

Que venha daí quem negue
esta estória de pasmar
tal e qual como se segue
a terra a irá contar:

- Andavam as formiguinhas
apressadas, em carreiro
carregando migalhinhas
lá para o seu formigueiro

Sua cintura delgada
antenas em movimento
elas vão subindo a escada
com todo o atrevimento

Um vulto se lhes depara
já no último degrau
o grupo estaca, pára:
- Será isto algum lacrau?

- Era do sapato a sola
do Tó que estava a brincar
correndo atrás da bola
prontinho para as pisar

Gritam alto amedrontadas
mas o Tó que nem as topa
começa a descer as escadas
salta, corre, até galopa

Para tentar esquivar-se
desta morte quase certa
vão depressa esgueirar-se
por uma nesguinha aberta

Perderam suas migalhas
e voltam atrás por isso
escondem-se numas palhas
o Tó, já levou sumiço

Espreitam agora caladas
os soldados a passar
são as formigas fardadas
haverá que se apressar

As antenas bem atentas
sentem a mestra lá longe
- Que se passa? estão tão lentas!
Será q’inda voltam hoje?

Pelas obreiras chamava
seu grupo obediente
cada uma sendo escrava
à rainha era temente

De todas, a mais pequena
comenta admirada:
- Vocês não têm pena?
desta vida desgraçada?

- Somos, escravas-obreiras
nascemos para bulir
nem pensamos nas maneiras
de ao destino fugir

Esta é a nossa missão
na colónia a ajudar
para que a procriação
possa assim continuar

Um par de asas só nasce
à futura mãe rainha
pois é ela quem merece
voar baixo, pela tardinha

A rainha tem o dever
d’a colónia povoar
tudo vai ter de fazer
para logo engravidar

Também ela é sofredora
para ter uma prole sadia
sai com asas por aí fora
que só lhe duram um dia

Nós e os soldadinhos
trabalhamos com prazer
pra cuidar nossos ninhos
que queremos proteger

Um formigueiro é assim
quando bem organizado
cada uma tem seu fim
cada grupo tem seu fado

Maria Melo

sábado, 8 de novembro de 2008

O BAILE DAS PALAVRAS


O BAILE DAS PALAVRAS



Bailam as palavras nos lábios do poeta
levadas no trinário balanço
do compasso
duma valsa

no passo largo do tango romântico
em cântico
semântico

no ondular da rumba, armadilha
redondilha
que brilha

no menear do samba à maneira
saracoteia a cadeira
a brasileira

no enlevo da mulata coladera
a palavra
espera

na dança do bugaku do Japão
lavra a lava
do vulcão


na bossa nova da garota de Ipanema
o poeta imagina
um tema

no break moderno, o corpo requebra
a dança, em regra
é negra

no bailado macabro rodopiam
alegres esqueletos
esquisitos

no ritmado do corpo
na música
a musa

na chula, no vira, no corridinho
ou no malhão
a inspiração

buscando, o poeta
arquitecta
um bailado
em que vê as palavras bailar


porque não sabe valsar
tenta rimar ideias
tenta rimar os espaços
nos passos
de cada bailado artístico, ritmado
da galharda ao minuete
d’antigamente


e encontra na moderna dança
Isadora, descalça,
livre, instintiva,
volteando
metafísica viva.


Na mente,
guarda recordações
de danças de vanguarda,
de hoje, de ontem,
sem limitações,
qual Mountain
sem rima
sem métrica
e, mesmo assim
poética


bailam na mente do poeta
as palavras
em hinos
divinos



Notas de rodapé:







Dança de vanguarda = linha expressionista, de surrealismo, existencialismo, indefinível, inexprimível deixando que o corpo descubra livremente a direcção dos seus movimentos com independência da dança em relação a condicionalismo narrativo ou musical.


Universidade de Black Mountain – Poetas experimentalistas pioneiros na utilização de formas abertas rejeitando as limitações da rima e da métrica.








quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ESPLANADA EM ATENAS


POR UM DIA

POR UM DIA



Quero ser eu por um dia
Sem amarras, sem compromissos
Dar largas à fantasia
Seguir somente os impulsos

Dar a mão a quem eu quiser
Seja conhecido ou não
Fazer o que me apetecer
Pondo de lado a razão

Ninguém me diga que faça
O que não quero fazer
E mesmo que quem me abraça
Me abrace, se me apetecer

Dar a mão a quem eu quiser
Seja conhecido ou não
Fazer o que me apetecer
Pondo de lado a razão

Ninguém me diga que faça
O que não quero fazer
E mesmo que quem me abraça
Me abrace, se me apetecer

Nesta liberdade plena
Sem a máscara da sociedade
Sentirei que vale a pena
O sentir da liberdade

Maria Melo

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ARTE DE VIVER

Eu às vezes sou artista
Pinto um quadro colorido
Projecto a vida em revista
Esqueço o tempo sofrido

Nesses momentos felizes
Que me trazem bom humor
Pinto os alegres matizes
Com que enfeitei o amor

Refugio-me na evasão
De harmonia colorida
Não passa duma ilusão
Que dá cor à minha vida

Se o momento é de tristeza
Tentem fazer como eu
Olhem à volta beleza
Desde a terra até ao céu
Maria Melo